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15 abril 2017

O feminismo não é prisão. É libertação.


Esse texto é pra você que está se identificando com o feminismo agora, ou pensando em aderir ao veganismo/vegetarianismo, ou até mesmo pensando em abandonar algum desses movimentos.
Nos ultimo anos, as pessoas têm apresentado ideias meio distorcidas sobre o feminismo. Muitas mulheres já me falaram "apoio a causa, mas não sirvo pra luta", "acho o feminismo interessante, me sinto representada, mas não nasci pra ser ativista", "não tenho tempo pra ser feminista", entre outras frases. Eu sou vegetariana e essas frases a cerca do feminismo são bem parecidas com as que eu escuto sobre o vegetarianismo. Todos os dias alguém me pergunta "foi difícil parar de comer carne?", "você sente falta de alguma receita que leva carne?". Eu sempre respondo "vegetarianismo não é um peso, é um alívio", porque não fui eu que escolhi esse movimento: foi ele que me escolheu quando eu não conseguia mais dormir sabendo que eu estava contribuindo com a morte dos animais. Eu me libertei quando abracei a luta, e o feminismo é algo bem semelhante. A luta pela libertação das mulheres não é um peso. Quando nos assumimos feministas, é porque já não conseguimos mais viver numa sociedade que nos maltrata, nos espanca, nos humilha, nos rebaixa simplesmente por sermos mulheres. O feminismo não é um rótulo bonitinho pra você colocar na testa e depois dizer "agora sim, sou feminista, quero meus direitos, espero aguentar a pressão, as brincadeiras das pessoas, os comentários dos meus amigos".
 Quando esse "rótulo" surge, você já era antes mesmo de assumir isso para as pessoas. E não é um peso ser feminista. Peso mesmo é aguentar o machismo todos os dias. Peso mesmo é saber que meu estado é o que mais mata mulheres, que todas saem na rua com medo de serem estupradas. Peso mesmo é saber que eu trabalho o mesmo tanto que um homem, temos a mesma formação e ganho bem menos que ele. Isso é um peso. Abraçar (e ser abraçada) por um movimento que te defende e defende outra pessoa não é uma prisão, é o que te liberta e liberta outras mulheres. O ativismo, a militância em si, isso, de fato, vem com o tempo e com a sua disponibilidade, mas não é um empecilho para que você se considere parte dessa luta. A partir do momento em que você se sente representada com o pensamento "eu posso ser o que eu quiser, independente do meu gênero" e reconhece que todas as mulheres também têm esse direito, você já é feminista, mesmo que você não esteja na rua gritando e levantando um cartaz maneiro.
Apesar de o movimento não ser um peso ou obrigação, não é motivo de orgulho, porque o feminismo só existe porque há violência contra as mulheres, assim como o veganismo e o vegetarianismo só existem porque há exploração dos animais. É importante ter isso em mente para que não venhamos a romantizar algumas causas que surgiram com base numa opressão. Por isso, abra seu coração e sua mente para ver o que você sofre e também o que você causa. Uma vez que você entende (de verdade) o meio cruel no qual estamos inseridos e que contribuímos pra essa crueldade constantemente, nunca mais você poderá fechar seus olhos para isso e ignorar o que acontece.
Deixe que isso tome conta de você, da sua alma, deixe que esse conhecimento te faça buscar libertação. Daí, o resto é natural, até que a sua única saída será abraçar o movimento, não porque tem alguém do seu lado te obrigando a isso e sim porque é a única forma de você ter paz e levar essa paz a outras mulheres (ou aos animais).
 É importante, também, enfatizar que você é dona de si, das suas atitudes, das suas escolhas. Se você entrar pra algum movimento, não é por ser obrigação. E se você precisar "se afastar", ninguém te obrigará a permanecer. Movimentos de libertação servem para isso: libertar. Se ele, em algum momento, te adoecer, você merece esse espaço para se cuidar: no feminismo (ou em outro movimento) terão outras pessoas para seguir firme, ele não vai acabar porque você saiu, mas só quem pode renovar suas estruturas para continuar forte é você mesma. Então entenda seus limites, do início ao fim.
Como eu disse, a libertação não é só para o alvo da sua luta, é também para você, e se ela está te aprisionando, é contraditório continuar. Isso vale para você que não sabe se muda toda a sua agenda para se encaixar a programação de protestos, que não sabe se também expõe o próprio corpo em público porque outra mulher o fez, que não sabe se já entra no veganismo direto ou se passa pelo vegetarianismo antes ou pra você que já participa do movimento e percebe que está surtando e precisando de um tempo para você mesma.
 O pensamento essencial é: "tá sendo natural ou eu estou me moldando a algo pra poder carregar esse rótulo?". Se for a segunda opção, ainda temos muita coisa a trabalhar e desconstruir aí dentro antes de você se jogar nesses movimentos. A sua saúde mental em primeiro lugar, e principalmente a sua consciência de luta. O capitalismo já nos aliena o suficiente (e também estamos no processo de derrubada), não precisamos de mais nada que aliene alguém.
 No mais, é isso. Se depois disso tudo você percebeu que é isso mesmo o que você quer, se é o que você é, que você está no caminho certo, ótimo, siga com esse pensamento, independente da sua disponibilidade ou dos seus planos para o futuro, porque uma hora tudo vai se encaixar. Mas, se você percebeu que nesse momento não é o que você precisa, não se preocupe: o seu momento ainda vai chegar.
 Até lá, estruture sua mente para isso, e principalmente converse com pessoas que são feministas/veg, que estão nesse processo, porque nós também estamos em crescimento, evoluindo a cada dia. Todos os dias fazemos a reflexão sobre estarmos ou não fazendo a coisa certa para os outros, e principalmente para nós mesmas.
E já dizia Los Hermanos: "se o que eu sou é também o que eu escolhi ser, aceito a condição".

Escrito por Ana Carolina Oliveira

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